A obesidade é uma doença que afeta milhões de pessoas em todo o mundo, inclusive crianças. Falar sobre ela se faz cada vez mais necessário, pois, infelizmente, ainda existe muita desinformação sobre o assunto, e muitas pessoas acham que obesidade se resume simplesmente a uma característica de “pessoas que comem demais”.
A nutricionista funcional Juliana Pizzocolo destaca que a obesidade é uma doença crônica e multifatorial, ou seja, uma complexa interação entre fatores genéticos e ambientais. “Com o estilo de vida atual, onde as pessoas correm contra o tempo, a alimentação pouco saudável (e rápida) ganhou espaço, sem contar que os indivíduos passam longos períodos sentados, em frente ao computador. Tudo isso associado ao estresse, poucas horas de sono, fumo e fatores genéticos”, explica.
Principais causas da obesidade
Giovanna Carpenti, endocrinologista, mestre em Tecnologias e Atenção à Saúde, e doutora em Endocrinologia com ênfase em Obesidade pela UNIFESP/EPM, destaca que as causas da obesidade podem variar muito e incluem fatores genéticos, ambientais, psicológicos e sociais. Neste sentido, podem ser citadas:
Desequilíbrio entre calorias ingeridas e queimadas: isso costuma ocorrer devido a uma dieta com a ingestão de muitos alimentos calóricos associada ainda à falta de atividade física.
Predisposição genética: há indivíduos mais propensos a ganhar peso. Conforme exemplifica Giovanna, existem pessoas com taxas de metabolismo mais baixas que outras. Isso dificulta o gasto calórico diário e contribui para o desequilíbrio das calorias ingeridas e queimadas pelo organismo.
Sedentarismo: muitas pessoas sentem dificuldades em se exercitarem e, além disso, por motivos de trabalho e/ou por hábito mesmo, ficam horas sentadas em frente a computadores, movimentando-se muito pouco ao longo do dia.
Oferta de alimentos e hábitos sociais prejudiciais: no estilo de vida atual, a oferta de produtos industrializados e/ou fast foods é enorme, e os hábitos de “sair para comer ou beber” com amigos ou familiares também estão enraizados na sociedade, o que facilita uma alimentação inadequada, rica em calorias e ingredientes prejudiciais à saúde.
Estresse: com uma rotina agitada, o imediatismo que a sociedade atual exige, poucas horas de sono, os compromissos em todos os âmbitos da vida, entre outros fatores, muitas pessoas se encontram estressadas – o que contribui significativamente para o ganho de peso, entre outros problemas de saúde.
Essas são apenas algumas das causas possíveis e vale destacar que, na maioria das vezes, elas estão associadas. Por exemplo, a pessoa come muitos alimentos industrializados; durante a semana tem uma rotina intensa, com poucas horas de sono; e, para completar, não encontra tempo e/ou não sente vontade de se exercitar... Tudo isso se associa, contribuindo significativamente para o ganho de peso.
Diagnóstico e tipos de obesidade
Juliana explica que o diagnóstico da obesidade é feito através de avaliações antropométricas (IMC, Dobras Cutâneas, Circunferências e Bioimpedância). É por meio do IMC (Índice de Massa Corpórea) que será definido se o paciente tem sobrepeso, obesidade grau I, obesidade grau II ou obesidade mórbida, conforme explica a nutricionista funcional:
- Sobrepeso: IMC 25 - 29,9
- Obesidade Grau I: IMC 30 - 34,9
- Obesidade Grau II: IMC 35 - 39,9
- Obesidade Mórbida: IMC acima de 40
“Lembrando que para classificar um indivíduo como obeso, todas as avaliações antropométricas devem ser analisadas”, acrescenta Juliana. Ela também destaca que a obesidade pode trazer inúmeros riscos à saúde, como, por exemplo:
- Diabetes tipo 2;
- Hipertensão;
- Problemas cardiovasculares;
- Trombose;
- Linfedema;
- Celulite;
- Aumento do ácido úrico;
- Problemas articulares;
- Aumento do colesterol;
- Apneia;
- Depressão;
- Esterelidade;
- Distúrbio menstrual;
- Doenças gastrointestinais;
- Esteatose hepática (gordura no fígado);
- Cálculos biliares;
- Hérnia;
- Câncer;
- Insuficiência renal.
Dessa forma, fica claro que, diferentemente do que muita gente pensa, a obesidade não é um problema de caráter estético, mas sim, uma doença que oferece sérios riscos à saúde e que, por isso, deve ser tratada.
Tratamento para a obesidade
A obesidade exige tratamento e, sobretudo, mudanças reais de comportamento. Conheça os principais métodos utilizados neste sentido:
Reeducação alimentar — Prevê que a pessoa seja reeducada quanto aos seus hábitos alimentares e de vida e, assim, perca peso de forma saudável e sem precisar de outros procedimentos. A prática de atividade física também é essencial neste sentido. Giovanna destaca que a reeducação alimentar é indicada em todos os casos. “Em caso de sobrepeso, sem nenhuma outra doença associada, somente a reeducação alimentar é indicada. Nos casos de obesidade ou de doenças associadas ao excesso de peso, o tratamento medicamentoso também se faz necessário”, explica.
Cirurgia bariátrica — Juliana esclarece que a cirurgia bariátrica é indicada em indivíduos que estão com IMC acima de 40Kg/m2 e são portadores de comorbidades como diabetes 2, apneia, hipertensão, doenças cardíacas, dentre outras. “O procedimento para dar início à cirurgia é delicado e, em alguns casos, demorado. É necessário um acompanhamento contínuo e profundo com uma equipe multidisciplinar (nutricionista, psicólogo, psiquiatra, endocrinologista e cirurgião), onde cada profissional deve aprovar (ou não) se o paciente está apto para a realização do procedimento”.
Balão intragástrico — Trata-se de um procedimento usado temporariamente para auxiliar na perda de peso. “Colocado por endoscopia, este balão provoca a distensão do fundo do estômago, estimulando a saciedade. Pode ser indicado em pré-operatório de pacientes com IMC acima de 50 (super-obesidade), que não conseguiram emagrecer com tratamento clínico e acompanhamento de nutricionista e preparador físico. Vale lembrar que este é um procedimento auxiliar e deve ter como aliado um hábito de vida saudável (alimentação + atividade física)”, destaca Juliana.
Após o diagnóstico, o médico indicará ao paciente qual é o tratamento mais indicado para o seu caso. De toda forma, a reeducação alimentar e a adoção de hábitos de vida mais saudáveis – como se exercitar, dormir bem, não fumar etc. – são fundamentais na hora de combater a obesidade.
Grupos e fatores de risco
De acordo com a nutricionista Juliana, os principais fatores de risco para obesidade são:
- Diabetes;
- Histórico familiar;
- Tabagismo;
- Uso excessivo de bebida alcoólica;
- Colesterol alto;
- Hipertensão;
- Hábitos alimentares inadequados;
- Problemas no sistema linfático;
- Estresse excessivo;
- Sedentarismo;
- Ansiedade;
- Doenças (hereditárias e/ou desequilíbrios hormonais).
Giovana ressalta que são vários os fatores que contribuem para o desenvolvimento da obesidade. “No entanto, o acúmulo de gordura se justifica por dois hábitos individuais: o sedentarismo somado à má alimentação. Dizemos que tem uma má alimentação principalmente aquelas pessoas que dão prioridades a açúcares e alimentos calóricos. Outros fatores importantes são o estresse, a ansiedade, o abuso de bebidas alcoólicas e o uso de alguns tipos de medicamentos”, finaliza a endocrinologista.
A obesidade é, sem dúvidas, uma doença que deve ser levada a sério. Ela pode, inclusive, se iniciar na infância e, por isso, é importantíssimo que os pais estejam atentos a essa possibilidade e estimulem, dentro de casa, uma alimentação e hábitos de vida mais saudáveis junto a seus filhos.